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Ao contrário do que possa parecer, a principal virtude do Santos foi criar muitas oportunidades de gol sem um “camisa 10” de fato, enquanto o São Paulo chutou apenas 1 vez certa ao gol com um “maestro” no time. Tudo por causa da execução do sistema das equipes.
Na Vila Belmiro, Santos e Ponte entraram num 4-2-3-1 parecido: linhas próximas, um volante de maior saída (Cícero e Fernando Bob) e um meia central que alinhava com o atacante único na marcação (Gabriel e Adrianinho).
Desenho igual, mas execução diferente. A Ponte preferiu trabalhar a bola com Adrianinho mais recuado e Silvinho bem agudo pela esquerda, e dominou a posse, mas não penetrou na área santista. O Santos preferiu sair com velocidade na transição e encontrou o gol em rebatida de escanteio, ainda no primeiro tempo.
Foi na segunda etapa que a equipe da baixada mostrou seu ponto forte: o toque de bola em velocidade. 21 chutes a gol, 40% de posse, 4 gols. Mecanismo simples: um jogador recebe e muitos já estão passando da linha da bola para receber. Mais opções de passe e de conclusão da jogada, que ainda ganha força nas bolas paradas com Cícero e Damião.
No frame do segundo gol fica claro: assim que Damião recua, Gabriel, Thiago e Geuvânio já correm para a frente, esperando o passe. Os camisas 10 e 11 frequentemente “entram em facão”: saem do lado para o drible em direção a área, movimentos que confudem a linha do adversário e abrem espaços para quem chega de trás, como Cícero.
Tudo isso sem um “camisa 10”: a proposta ofensiva é sempre a velocidade para confundir a retaguarda adversária, e não precisa de passes mais elaborados. Cícero, quando atuou centralizado no 4-2-3-1, tinha função parecida com a de Gabriel: atrair a marcação, bagunçar a linha adversária e abrir espaço para o meia do lado que entra em diagonal.
No Morumbi, os esquemas também foram iguais: um 4-2-3-1 que se fechava em duas linhas, num 4-4-1-1; mas propostas inversas: Narciso colocou Guaru e Douglas atrás dos volantes são-paulinos e fechou os lados com Alexsandro e Petros.
Postura muito recuada que negou espaços para o São Paulo trabalhar a bola ou sair com velocidade de trás. A solução foi espetar o time no campo adversário e buscar Osvaldo, agudo pela esquerda, ou alguma trama trabalhada que pudesse furar as rígidas linhas.
Jogada que não saiu pela inércia do sistema de criação: se no Santos são as movimentações que cria situações de gol, no São Paulo quem alimenta o ataque é Ganso, definitivamente um “camisa 10”, mas que engessa o time quando recua ou não vai bem.
Muricy pede: “Ganso, entra na área e faz gol”. Só que o jogador prefere recuar para receber do zagueiro e pensar a próxima jogada. Resultado prático: fica longe da faixa central e de Osvaldo e Pabón, obrigando o time a buscar sempre alguma superioridade pelo lado numa jogada de linha de fundo, já que pelo meio o passe vertical não vem.
Faltou penetração do time inteiro, e não só de Ganso: Maicon ficou distante e Pabón mais atento ao cerco de Petros e Rodrigo Biro, lateral que apoiou mais na Penapolense. O São Paulo tocava, tocava e Luís Fabiano não recebia nenhuma bola. O frame mostra bem: apenas 2 são-paulinos entre as linhas da Penapolense e Ganso e Pabón distantes da área.
Foi assim no segundo tempo inteiro, quando a Penapolense até arriscou mais os ataques – terminou o jogo com metade dos passes trocados (244 x 473) e o mesmo número de finalizações (7×7) – e continuava vendo o São Paulo sem ninguém na área central para pensar uma forma de mexer com as duas linhas do time interiorano.
Nos pênaltis, o placar do vexame histórico que expõe a principal carência do São Paulo em 2014: criar jogo quando Ganso não atende aos insistentes pedidos de Muricy ou quando falta velocidade na transição, justamente o que sobra no Santos de melhor ataque e sem camisa “10” que reencontra a Penapolense. Um bom teste para o sistema de criação.